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domingo, 24 de outubro de 2010

A arte esquecida de servir à Deus

por Alan Brizzoti

"Disse, então, Maria : Eu sou a serva do Senhor. Cumpra-se em mim segundo a tua palavra" Lc. 1.38

Gosto de imaginar o momento em que Maria recebeu a visita angelical. Por se tratar do inesperado, nós, como humanos, tememos. Mas o ser celestial começa a utilizar as Escrituras, chega com uma mensagem que muda a história, que apregoa a grandeza de Deus e de seus planos. Mesmo assim, Maria passa a questionar, seus olhos se voltam para a impossibilidade que aquele ser celeste apresenta e oferece.

Somos assim, diante do inesperado, do fantástico, do miraculoso, nossa tendência é testar a veracidade dos fatos. Não que isso seja um problema mas, não temos a capacidade de olhar diretamente para a promessa de Deus, olhamos através de nós mesmos, a partir de nossa humanidade, sob o peso da pecaminosidade. Olhamos sem perfeição. O que me chama a atenção na conversa do anjo com Maria é que não há euforia, não há um sentimento de misticismo exacerbado, não há o frenesi espiritualista característico das chamadas “manifestações” angelicais da atualidade.


A conversa é franca, normal, natural, rápida, e acaba gerando em Maria o senso do servir. A resposta dela ao anjo é curta, porém, perfeita: “sou serva!” Ela não se ufana por ser chamada de bendita ou agraciada. Ela não brinca com o sagrado, simplesmente questiona: “como se fará isto, visto que não tenho relação com homem algum?” (Lc. 1.34). Ela pensa, mesmo frente ao divino. Não vive uma fé sem racionalidade, mesmo sabendo agora que o Espírito de Deus vai se tornar uma realidade histórica, física, palpável, denunciada pelas mudanças revolucionárias em seu corpo.

A teologia do servir em Maria vale muito mais hoje do que a simples menção de seu nome. Maria nos ensina nesse texto uma preciosa lição de espiritualidade: somos servos, portanto, não podemos usar nosso Senhor, mas sim, servi-lo com nossas vidas. Maria abriga em seu ventre o salvador do mundo, recebe em seu corpo o Cristo de Deus, lhe oferece o amor de mãe, uma das mais tremendas formas de amor da experiência humana. Se existiu alguém que amou a Jesus, esse alguém foi Maria.

Um corpo humano gerando a humanidade mais perfeita. A verdade de Maria é a verdade insondável do amor. Encontrar-se com Deus ainda é transformar-se em servo!

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