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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Catástrofes

Por que é que determinadas pessoas escapam da morte em acidentes aéreos, tsunâmis, terramotos, furações ou ataques terroristas? Frieza e realismo são qualidades de quem escapou de catástrofes.

Seis pessoas foram resgatadas com vida em Port au Prince, cinco dias após o terramoto de magnitude 7.0 que destruiu grande parte da capital haitiana, no dia 12 de Janeiro. Um dos resgatados foi o funcionário dinamarquês da missão de paz da ONU, Jens Christensen. Outras cinco pessoas foram retiradas com vida dos escombros de um supermercado na capital, entre elas um menino de sete anos. Mas, como é que estas pessoas se agarraram à vida contra todas as circunstâncias?


O norte-americano Laurence Gonzalez, premiado jornalista da revista National Geographic, autor do livro “Deep Survival, Who Lives, Who Dies, and Why” (“Sobrevivência Profunda – Quem vive, Quem morre e Porquê”), passou 15 anos a estudar os motivos que levam alguns à vitória e outros ao fracasso e à morte, quando confrontados com situações extremas. E, para sua surpresa, encontrou um padrão uniforme de comportamento entre os sobreviventes de catástrofes, sejam elas uma queda de avião no meio da selva, uma batalha contra o cancro, um divórcio, uma crise empresarial ou mesmo o atentado ao World Trade Center, em Nova Iorque.


As lições de quem sobreviveu
O primeiro comportamento dos sobreviventes é que todos percebem a realidade exatamente tal como ela é. “Muitas das vítimas do 11 de Setembro morreram por achar que tudo ficaria bem, negando a realidade. Os sobreviventes disseram para si mesmos: ‘Ok, o horror está a acontecer, e eu tenho que sair daqui’”, observa Gonzalez.

Em segundo lugar, todos se mantêm calmos, resignando-se à dor. A frieza é essencial para elaborar um plano de ação, como foi o caso do velejador Steve Callahan que, ao ver-se náufrago, no meio do Atlântico, em 1982, passou 76 dias num bote, com água racionada. Para não ceder aos apelos emocionais e beber de uma vez toda a água, Callahan criou na sua mente um capitão, que dava as ordens severas à tripulação (ele).

Outra caraterística é a de, ante o desafio imposto, dividir a imensa tarefa da sobrevivência em tarefas menores, mais administráveis, caso da executiva Lauren Elder, sobrevivente de um acidente aéreo na Serra Nevada, na Califórnia (EUA), que, para não se desesperar com a gigantesca montanha que teria de descer, estabelecia como objetivo imediato apenas a próxima rocha à sua frente.

Celebrar as pequenas vitórias pelo caminho, mesmo que as chances do êxito final pareçam exíguas, é outro comportamento do vencedor/sobrevivente. Já nos piores momentos, muitos estabelecem pequenos rituais para evitar a insanidade. O ciclista Lance Armstrong, vítima de cancro linfático, fazia a contagem diária do seu exame sanguíneo. Os números tornavam-se um refrão mental que o estimulava. Outros recorriam à recitação de poesia ou à elaboração de problemas matemáticos para o alívio do stress.

Não sou uma vítima, mas um vencedor
Um traço paradoxal encontrado por Laurence Gonzalez é que o sobrevivente nunca se vê a si mesmo como vítima, mas como prestador de socorro. Os sobreviventes pensam mais nos seus dependentes (família, funcionários, etc.) do que em si mesmos. Ainda que, esses dependentes sejam imaginários, como no caso do jovem montanhista israelita Yossi Ghinsberg que, perdido no meio da selva boliviana, teve uma alucinação, acreditava que estava na companhia de uma bela mulher. Tudo o que fez para sobreviver foi no intuito de salvá-la. Por fim, outro traço comum dos bem-sucedidos é a crença unânime de que a vitória virá (o que parece óbvio), mas, ao mesmo tempo, mesclando-a com a resignação ante a dor e a morte. É uma resignação sem desistência, tal como Dougal Robertson, sobrevivente por 38 dias em alto-mar. “O acidente deu-me a certeza da morte… algum dia eu morreria, mas não naquele dia. Enquanto o resgate não vinha, tudo o que eu tinha a fazer era continuar o jogo da sobrevivência”, disse.

Vencedores, enfim, também fazem tudo que é possível para alcançar a vitória.

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