Queimadas com ácido (13 fotos)
Infelizmente, em muitos lugares a mulher continua sendo tratada como um ser de última categoria e qualquer tentativa de mudar este comportamento pode levar a conseqüências muito tristes. Normalmente, o terrorismo é considerado um ato político, mas às vezes pode ser assustadoramente pessoal. Não é o governo ou os rebeldes que derramam ácido nos rostos das mulheres no Paquistão. Isso é pura misoginia e ignorância realizada por maridos. Se for sensível, nem pense em ver a parte interna deste artigo.
Nicholas Kristof, colunista do The New York Times, que no ano passado foi para o Paquistão para cobrir o problema, escreveu assim em seu artigo:
Eu fui investigar casos de ataques com ácido, comumente usado para intimidação e opressão das mulheres e meninas em toda a Ásia, do Afeganistão ao Camboja. Parece que as mulheres são trastes nesta parte do mundo, aqueles que atacam, muito raramente são julgados ou presos, e a venda de ácido normalmente não é controlada.
Em alguns lugares da Ásia ainda é muito fácil ir à loja e comprar ácido sulfúrico ou clorídrico, capaz de destruir um rosto humano. Ataques a mulheres com ácido é algo generalizado nesta região da Ásia porque as vítimas são impotentes, não têm voz nenhuma na sociedade.
Desde 1994 quando foi criado a "Associação de Mulheres Progressistas" (PWA) para ajudar as vítimas, foram documentados 7.800 casos em que as mulheres foram deliberadamente queimadas, escaldadas com água fervendo ou encharcados com ácido, somente na área de Islamabad. Apenas em 2% desses casos alguém recebeu punição.
Quando me encontrei com Naim Azar, uma mulher paquistanesa que foi outrora uma corretora de imóveis, atraente e confiante servindo, estava usando um véu negro, envolvendo sua cabeça e face. Depois de removê-lo, meu corpo estremeceu. Seu rosto todo queimado pelo ácido parecia ter os ossos expostos, mesmo depois de fazer seis enxertos de pele com partes das pernas. Ela não pode fechar os olhos ou permanecer com boca fechada, não pode comer em público, porque a comida cai durante a mastigação.
- "Olhe para Naim, ela perdeu também sua visão", suspira Shahnaz Bukhari, ativista paquistanês responsável pela PWA, em meio a lágrimas. - "Eu choro toda vez que ela vem a mim."
Naim mantinha a casa e seus três filhos jovens quando decidiu se divorciar de seu marido Jamshid Azar, comerciante de frutas, que raramente levava dinheiro para casa. Ele concordou com o divórcio, porque estava de olho em outra mulher. No entanto, e de acordo com seu filho, após o divórcio, Jamshid foi em casa com a desculpa de dizer adeus aos filhos e pediu dinheiro emprestado. Como ela recusou, ele pegou uma garrafa que estava no bolso e aspergiu ácido no rosto da ex-esposa.
Os vizinhos vieram correndo, mas entraram em estado de pânico quando viram o rosto da mulher desmanchando. Ninguém pegou Jamshid, ele simplesmente desapareceu.
Naim sobreviveu graças ao apoio de amigos e da PWA. Shahnaz Bukhari está recolhendo dinheiro para pagar um advogado que poderia convencer a polícia a encontrar e prender Jamshid, bem como para uma operação que poderia restaurar a visão em um olho de Naim.
Nos últimos dois anos, o senado americano estuda uma lei internacional para ajudar a conter a violência contra a mulher no mundo, uma lei que permitiria uma série de medidas para cobrir tal crueldade e forçar governos estrangeiros a prestar atenção a casos como este, de forma a quebrar o silêncio e a cultura da impunidade que cercam este tipo de terrorismo.
Mas a pior parte do meu encontro com Naim Azar, além da visão de seu rosto foram as palavras de seu filho de 12 anos Hasan Shah, que a acompanha em todos os lugares. Ele disse que em uma das casas, onde permaneceram algum tempo após o ataque, o vizinho batia na sua esposa todo dia e ameaçava:
- "Você já viu a cara da vizinha? Eu vou fazer a mesma coisa com você!"
Tudo isto em pleno Século XXI. É de embrulhar o estômago.
Se você quer ajudar estas mulheres poderá buscar informação de como fazê-lo na página da associação PWA no Facebook.
Fonte: MID