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segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

PM transmite suicídio ao vivo no Facebook chocante

Um policial militar transmitiu a própria morte na noite deste sábado pelo Facebook. O soldado Douglas de Jesus Vieira, de 28 anos, estava há seis anos na PM e era lotado no 24º BPM (Queimados). As imagens dos últimos momentos do policial foram feitas na casa dele, em Brás de Pina, e provocaram comoção entre amigos, internautas e policiais, que vivem uma das mais graves crises da corporação.


Nas redes sociais, PMs associam a morte do soldado à falta de pagamento, uma vez que os servidores da segurança estão recebendo com atrasos. Há dezenove dias, no dia 11 de janeiro, Douglas também reclamou da falta de pagamento, em uma publicação no Facebook. "Eu preciso receber, minhas contas vão vencer", escreveu o PM em alusão ao hit 'Deu Onda'.
Apesar das mensagens associando a morte do PM à crise no Estado, o EXTRA ouviu o padrinho de casamento e amigo do soldado, Clenilson Cruz, que afirmou que podem haver outras motivações que levaram o PM a tirar a própria vida.

- Ele andava muito triste, muito para baixo. Além da falta de pagamento, ele estava se divorciando e trabalhando muito, fazendo segurança privada. Estou muito triste porque ele me chamou para sair ontem e eu não aceitei o convite. Se estivesse com ele, isso não teria acontecido. Infelizmente, só o Douglas mesmo sabia o que teria motivado esta tragédia. Ele era um cara que gostava de curtir a vida. Não consegui até agora entender o que aconteceu - disse.
Cleilson era padrinho de casamento e amigo de infância do PM Douglas de Jesus Vieira Foto: Ana Branco / Agência O Globo

Rayane Cristina dos Santos, de 25 anos, ainda é casada com Douglas no papel, mas moravam separados há um ano. Eles têm uma filha, Luísa, de 1 ano e 3 meses. Segundo a jovem, Douglas tinha histórico de depressão e já foi internado quatro vezes na psiquiatria do Hospital Central da Polícia Militar. Da última vez, ficou uma semana internado após tentar se matar ingerindo bebidas e medicamentos.

- Ele tinha histórico de depressão, mas a gota d'água foi o atraso nos salários. Era muito certinho com as contas. Nos últimos meses, muitas vezes me ligava desesperado. Dizia que estava endividado e não sabia como iria pagar o aluguel - contou.
Ainda segundo Rayane, Douglas ligou para avisar o que faria.

- Ele já tinha ameaçado se matar outras vezes. Ontem à noite me ligou, uns 20 minutos antes, dizendo o que ia fazer, mas não acreditei porque ele já tinha falado isso antes. Era um ótimo pai. Sempre pedia que eu só falasse bem dele para ela. Nossa filha dormiu com ele da noite de sexta para sábado. Busquei ela às 7h na casa dele e, à noite, ele se matou - contou.

Ainda de acordo com Clenilson, ele recebeu a notícia por uma prima que assistiu a transmissão na internet. O vídeo original não está mais disponível na página do policial. No entanto, outras cópias circulam pelo Facebook e YouTube.

- Recebi a notícia por volta de 23:50. Minha prima me ligou contando. Fiquei desesperado. A família toda assistiu. Não sei o horário certo em que aconteceu - contou.
Douglas era soldado da Polícia Militar Foto: Reprodução do Facebook

Na transmissão ao vivo, Douglas aparece deitado em sua cama e interage com os internautas que o assistem."E aí, tranquilidade? Tamo junto! Quero ver quem tem disposição pra ver bagulho ao vivo. Quem não tem estômago, mete o pé. O bagulho vai ficar doido agora", diz o policial. Em seguida, Douglas aponta a arma para cabeça e dispara. Nas imagens não é possível ver o PM morto, já que o celular cai da mão de Douglas e a imagem some.
Soldado da PM transmitiu suicídio ao vivo Foto: Reprodução do Facebook

Enquanto o policial falava, muitas pessoas pediam para que ele não cometesse o suicídio. "Pelo amor de Deus, Douglas", "para com isso!", "Por que você fez isso?" e "Douglas, para de bobeira" são algumas das mensagens que amigos do PM enviaram.A transmissão estava disponível apenas para os amigos do soldado.

Uma amiga do soldado que assistiu a transmissão e prefere não se identificar, disse que Douglas havia feito uma outra filmagem antes da que viralizou nas redes. Segundo ela, quem viu o vídeo acreditou que o PM estava fazendo uma "brincadeira de mau gosto".
- No primeiro vídeo eu fiquei até zoando ele, mandando ir dormir, mandar alô. Essa transmissão foi uns 10 minutos antes da última. Ele dizia que tinha muitas pessoas que o conhecia somente por rede sociais e que pouco o conheciam verdadeiramente. E disse que queria deixar um recado: que se tivemos algum amigo que vacilou, outro iria dar moral para gente. Ele, então, falou o nome de dois amigos e disse que um dia eles iriam se reencontrar. Ele colocou a arma na cabeça, mandou beijo e encerrou a transmissão. Depois ele fez a outra. Até um pouco depois do disparo, eu achei que ele estava fazendo uma brincadeira de mau gosto. Depois, ligamos várias vezes e nada. Foi quando me dei conta de que era real - disse.
Douglas Vieira deixa uma filha de um ano Foto: Reprodução/Facebook

Douglas deixa uma filha de um ano. Segundo Clenilson Cruz, o corpo do policial foi retirado da casa dele, em Brás de Pina, na Zona Norte do Rio, por volta das 05h da manhã deste domingo. A ex-mulher de Douglas e Clenilson estão no Instituto Médico Legal para liberar o corpo. Ainda não há informações sobre o velório e enterro do policial

Assista ao vídeo 
Via Extra

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Fotos mostram PM com máscara de palhaço apontando machado contra rapaz negro

Duas fotos, de um PM (policial militar) fardado, vestindo uma máscara de palhaço, com um machado e uma arma apontados na direção da cabeça de um rapaz negro, que pede clemência, estão circulando nas redes sociais desde a tarde da última quarta-feira (13).

As imagens teriam começado a ser reproduzidas por PMs em grupos restritos a policiais no WhatsApp. Depois, viralizaram em vários grupos, principalmente da zona norte da capital. A legenda utilizada por quem espalhou as imagens é: “Tem tatuagem de palhaço, mas quando vê um na frente fica com medo”.

Em janeiro de 2015, o capitão da Polícia Militar baiana Alden dos Santos divulgou um estudo que apontou que a maioria dos presos que tem tatuagens de palhaço tem ligação com roubo ou envolvimento em morte de policiais. No entanto, de acordo com o próprio capitão da PM, “nunca nenhum cidadão poderá ser abordado somente por apresentarem tatuagens descritas na cartilha”.
A cartilha a que ele se refere é de tatuagens de bandidos, coletadas por ele em presídios, delegacias, institutos médicos legais, jornais, revistas e redes sociais. Aproximadamente 50 mil documentos e fotos foram averiguados pelo PM para a divulgação do estudo.

O advogado Ariel de Castro Alves afirmou que as duas imagens específicas incitam um crime previsto no Código Penal. “Art. 286 – incitar, publicamente, a prática de crime: pena – detenção de 3 a 6 meses ou multa. Pediremos que a Ouvidoria de Polícia abra um procedimento para identificar os policiais e apurar a conduta deles”, disse à Ponte Jornalismo. Ariel é membro do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana) e do Movimento Nacional de Direitos Humanos.

“Nesse caso, há incitação ao cometimento de assassinatos de pessoas que tenham tatuagens de palhaços no corpo. O uso de máscara de palhaço com o fardamento também ofende a própria instituição PM. Fere também as normas internas da corporação, cabendo sindicância administrativa”, complementou o advogado.

O ouvidor da Polícia, Julio César Neves, afirmou à reportagem que o Comando da PM deve investigar as imagens. “Não faz parte do protocolo da Polícia Militar. Fazer aquilo e tirar uma foto daquele jeito é errado. A gente vai pedir para averiguarem. Pra Corregedoria da Polícia Militar averiguar. Porque foge completamente do Código de Conduta da PM”, disse.
Suspeita

No fim da tarde de ontem, o ouvidor Julio César Neves e Luiz Carlos Santos, membro do Condepe foram ao DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), da Polícia Civil de São Paulo. Lá, estava sendo detido um homem acusado de ter matado o policial militar Leandro Lessa de Souza, após uma tentativa de assalto no Ipiranga, zona sul, no último dia 25 de junho.

O ouvidor relatou à Ponte que o rapaz poderia ser o mesmo da imagem dos policiais com máscara de palhaço. Mas não soube dar mais detalhes. Luiz Carlos Santos disse à reportagem que às 15h desta quinta-feira (14), ele e o presidente do Condepe, Rildo Marque de Oliveira, vão ter uma reunião com o secretário da Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho, e que vão “colocar as imagens na mesa”.

“Nós vamos falar sobre violência policial, principalmente desde a morte do menino Ítalo, e do caso do universitário, sobre o histórico dos policiais mortos recentemente, o desamparo das famílias desses policiais e colocar na mesa essas duas fotos, do PM vestido de palhaço, para que seja tomada alguma providência. Os PMs envolvidos vão ter que ser identificados e responder pelo o que fizeram”, disse à Ponte Luiz Carlos Santos.
Quando foi morto, o policial estava à paisana, em frente a um comércio. Ele entregou a carteira ao bandido e, na sequência, reagiu ao assalto. O assaltante atirou e fugiu. Souza foi socorrido ao pronto-socorro do Hospital Estadual do Ipiranga, mas não resistiu aos ferimentos. Familiares e amigos afirmam que o governo não deu a devida importância para a morte do policial. Inclusive, relatam que tiveram de fazer uma “vaquinha” para pagar o caixão e enterro do PM.

A reportagem procurou a SSP (Secretaria da Segurança Pública), que tem à frente Mágino Alves Barbosa Filho, nesta quarta gestão do governador Geraldo Alckmin (PSDB), para que a pasta se posicionasse sobre o caso. A Ponte informou a suspeita do ouvidor e do Condepe à secretaria e questionou: caso seja o mesmo rapaz, como ele foi detido por PMs em um momento e se entregou, por espontânea vontade e com advogado, depois?

Até a divulgação desta reportagem, a SSP não respondeu o questionamento.

Luiz Carlos Santos afirmou que, se for o mesmo rapaz, o caso é ainda mais grave. “Eu e o Rildo temos a clara consciência de que, se for o mesmo rapaz, que até é parecido, há alguma coisa ainda pior. Porque o rapaz estaria já na mão do Estado, preso pelos PMs. Teria que ser investigado por que ele não foi encaminhado a um DP”.

Via Ponte / BUD

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