A recifense Joanna Maranhão, 29 anos, atleta brasileira que conquistou nas piscinas o direito de disputar os Jogos Olímpicos do Rio com as melhores nadadoras do mundo, a melhor nadadora brasileira de provas medley desde que tinha 14 anos de idade, dona de diversos recordes brasileiros e sulamericanos, foi eliminada por 5 décimos em sua terceira participação olímpica e, por isso, sofreu uma série de ataques cruéis dos brasileiros nas redes sociais. Os brasileiros, esses que deveriam ter orgulho de uma das principais atletas da natação brasileira.
Após ficar de fora da semifinal dos 200m borboleta, ela usou as entrevistas da zona mista para desabafar contra os detratores anônimos. Entre os impropérios que leu estão desejos de que ela fosse estuprada novamente e acusações sem o menor fundamento de que teria inventado os relatos dos abusos sexuais que sofreu na infância. Joanna Maranhão é uma das raras atletas que não têm medo de dizer o que pensa, e respondeu à altura sobre a crueldade acéfala que foi obrigada a ler, semelhante às ofensas que a judoca Rafaela Silva, medalha de ouro no Rio, teve que ler em Londres 2012, quando perdeu:
“A gente dá duro todo dia. Mas o Brasil é país machista, racista, homofóbico e xenófobo. Não estou generalizando. Mas essas pessoas existem. Infelizmente. Aí quando elas estão em frente a um computador elas se sentem no direito de dizer essas coisas. Todo mundo tem o direito de discordar dos meus posicionamentos políticos. Mas a minha formação faz com que eu me posicione. E eu não vou parar. Mas desejar que eu seja estuprada, desejar que a minha mãe morra, comemorar porque eu não peguei uma semifinal por cinco centésimos… Acho isso covardia. Falta de caráter. E isso não se faz com ninguém.”
Em outra declaração, detalhou as ofensas que leu entre ontem e hoje no Twitter e no Facebook:
“A gente tem que ter um pouco mais de respeito e empatia pelo ser humano. Desejar que eu seja estuprada? Sério? Porque não apoio político ‘x’ ou ‘y’… Falar que eu inventei a história da minha infância (sobre o estupro) pra estar na mídia. Isso é muito pesado. Recebo tantas mensagens bonitas e pesadas de crianças, mulheres e homens que passaram pela mesma situação que eu e dizem: ‘Joana, eu entendo quando você sobre no bloco sorrindo. Eu entendo o valor disso’. Então, como alguém pode imaginar que seria capaz de inventar um abuso para estar na mídia? Que tipo de mídia é essa que eu quero estar? Minha mãe até hoje tem que sentar de frente para o cara que fez o que fez comigo, escutar ele falar que não fez. Será que eu ia escolher minha mãe passar por isso? Que tipo de ser humano monstro seria eu? Estou fazendo um apelo. Ninguém tem obrigação de gostar de mim. Mas me respeite. Eu aguento porque não tive outra opção na minha vida. Se eu não aguentasse, teria sucumbido à depressão.”
E se colocou de forma corajosa ao lado de outros atletas que sofreram ofensas por perderem em seus esportes:
“Não é que esse tipo de mensagem vá me fazer parar de nadar ou desistir. Mas machuca. As pessoas não merecem (ouvir isso). Como a Rafaela não merecia ter escutado o que escutou há quatro anos. A Sarah não merece… Lembro que o Leandro Guilheiro teve um ciclo olímpico brilhante antes de Londres, aí quando ele não ganhou a medalha começaram a chamá-lo de ‘Leandro Pipoqueiro’. Um cara que é campeão mundial júnior, tem duas medalhas em Mundiais, duas medalhas em Jogos Olímpicos, que tira golpe dos dois lados ser chamado assim.”